Acumula muito mais trabalho para uma pessoa fazer, porém há um ganho de tempo nisso. É interessante ver um retrocesso do processo de divisão do trabalho do século XXI. Nós temos novamente algo que se assemelha às corporações de ofício da idade média, não pela proteção de mercado, mas que um mesmo artesão, artista ou profissional tem de estar a par, e se for caso, realizar todos os processos. Há uma desverticalização e não mais centralização do locus de trabalho. Um desenhista hoje pode fazer o desenho direto em seu PC e mandar direto por e-mail para seu editor ou cliente.
O pensamento em frente as novas tecnologias também tem que mudar. Por exemplo, é preciso contar e trabalhar pensando na etapa que haverá na frente do computador. Antigamente se uma mancha indesejada de nankim caia na folha de papel era um martírio consertar, por vezes podia-se perder o desenho de maneira que o jeito era refazer. Hoje no pc manchas fortuitas podem ser limpas sem deixar vestígio. Para o caso do desenhista que trabalha "desenhando" na tela a possibilidade de manchar o desenho com tinta obviamente nem existe. Outra coisa que mudou é o uso de cores. Hoje com um clique o artista preenche uma área que ficaria uns bons minutos para acabar. Isso quando não falamos nas vantagens de colocar imediatamente fontes de passar o desenho direto do lápis para o pc, corrigir tonalidades e excessos. A um custo menor.
No entanto, há ainda muito trabalho e não significa que ser desenhista hoje é a maior moleza. Algumas partes da colorização da arte-finalização e do próprio desenho em mesa digital
são tão braçais quanto os métodos analógicos, digamos. O cara precisa de uma boa noção do que funciona no papel para saber trabalhar em frente ao PC. Ainda acho que não há como substituir o desenho à lápis e papel sobre uma folha. Fazer um sketch ou
croquí, no pc é coisa que simplesmente não dá muito certo. É possível transformá-los depois, mas direto não dá. Além disso, mesmo com os ganhos em pontos , monitores de alta resolução e etc... O desenho no papel e até mesmo impresso tem maior definição do que o da tela do computador. As cores que vemos na tela são ainda bastante limitadas ao que vemos originalmente (o que é na tela não é exatamente igual quando impresso). Por isso o valor de ter trabalho em papel e o artista conhecer como as coisas funcionam fora do pc, é ainda fundamental que entenda aplicação de cores e métodos na folha.
artista desenhando direto no computador com sua mesa digital
dispensa o mouse. Do site: On My Desk
O analógico não acabará. Ainda acho que ler um livro ou quadrinho impresso é ainda melhor do que na tela. Acho que até hoje não terminei nenhum romance que tenha me proposto a ler na frente do computador, não tem a mesma graça (textos técnicos, sim, pois é uma questão diferente, possuem até a virtude de economizar papel). Em se tratando de arte, folhear páginas ainda é mais prazeroso e versátil. Dá pra ler sem energia elétrica e como diria MIllôr: "livro não enguiça", não dá pau e pode se ler deitado, no sofá, de cabeça pra baixo, no ônibus, avião... Só não pode ser usado em baixo d'água, mas isso o laptop também não pode.
Mesmo no computador alguns desafios novos aparecem, como: qual a melhor forma de se estruturar um "quadrinho" digital? Onde aplicar os recursos gráficos 3D que o computador permite inserir com maior facilidade? Como usar os recursos técnicos para ampliar a gama de cores possível? É possivel fazer com que o trabalho pareça real (ou seja, simular trabalhos de arte feitos à mão)? Existem recursos do computador que são impossíveis de serem obtidos sem eles? Uma série de questões importantes a serem resolvidas pra quem entra nesse ramo.
Cada meio apresenta seus desafios. O PC é uma ferramenta hoje quase indispensável ao desenhista. O antigo sistema de impressão não existe mais. Mudou a tecnologia do papel, propicia novas formas narrativas e as possibilidade de visão e divulgação, comércio com o globo inteiro aumentaram. É cada vez mais possível ser um profissional de fundo de quintal e exercer com competência a sua arte. Porém esse mundo mais difuso assim como tornou fácil a divulgação tornou muito difícil a polarização e a percepção. Se exige um maior critério crítico de percepção. Hoje cada pessoa pode ser um jornalista com seu blog, um fotógrafo no orkut, cineasta, escritor, comentarista, quem sabe até economista ou outras profissoes com maior grau de informação (já pensaram em consultas médicas pela internet). O século XXI se configura como a era da vasta informação de baixo custo, o custo é transportado para a apuração pessoal, cabe a cada um passar um pente fino e descobrir a informação que precisa, tipo: encontrar uma boa banda de música, um desenhista legal, um economista preciso na análise, enfim, a iformação que necessitas demandará mais de ti mesmo.
Referências:
Galera, ninguém estudou muito bem como o meio digital influencia na nova maneira de se fazer quadrinhos. Mas podemos recorrer ao guru Scott McCloud que foi quem escreveu um pouquinho sobre isso em seu terceiro livro Making Comics. Recomendo também o reinventando os quadrinhos, do mesmo autor, onde há mais ainda sobre computadores e Mercado.
Outra referência Du Caray para ficar sabendo desses avanços tecnológicos e Etc... é o site do colorista Steve Oliff, que trabalhou com AKIRA e os primeiros números do Spawn e, nada mais nada menos, criou a ilustração digital com seu programinha Olyoptics.
Lembro-os de visitar o site brasileiro de quadrinhos na internet: webcomix
E o núcleo de pesquisa em Histórias em Quadrinhos da USP em que vale a pena dar uma olhada. Dica que vale para mim mesmo já que ainda não pude olhar com maiores detalhes as pesquisas que lá estão.
Infelizmente esse lance de maior difusão impede alguma boa concentração que era algo positivo. As referências se perdem. Na música, por exemplo, o que é bom?! Se perde a referência que bem ou mal haviam nos sucessos de venda. Hoje não há grande bandas, existem sucessos, mas cada vez menos, é cada vez mais rarefeito. Sem a referência, não há uma união de pensamento que as vezes é saudável.
Charge que expressa um pouco o que quero dizer. From XKCD/#132.
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