quarta-feira, julho 18, 2007

Adendo ao Método de Contabilização do Valor das Páginas...

Adendo ao método de contabilização do Valor das Páginas...


Durante a elaboração do método de contabilização algumas questões ainda me intrigavam. Aquela do Stiglitz, por exemplo, se o renomado economista decidisse fazer uma história em quadrinhos de quatro páginas e empregasse, para isso, os mesmos materiais baratos que eu utilizei que por sinal não acredito que variem muito de preço entre nações.1 Um bom fator que mudaria e revelaria o custo de oportunidade do Stiglitz é que ele muito provavelmente mora em uma caríssima propriedade em NY. Mas supondo que ele fosse Brasileiro e morasse aqui em Belo Horizonte, por conta de aluguel ele não pagaria muito mais do que eu, embora existam propriedades bem caras aqui em BH. Mas o preço pago em aluguel está diluído entre as horas trabalhadas no quadrinho (não aumentaria mais do que 30% o custo).


E fazendo a suposição final de que o Stiglitz gaste o mesmo tempo e ouça os mesmos cds que eu escutei, podendo até não ser os mesmos, pois dificilmente um cd variará muito de sua faixa de valores (mesmo não sendo os mesmos), chegamos à ridícula conclusão final de que uma história feita pelo Stiglitz custaria o mesmo tanto que a minha!


Claramente isso não está certo, em grande parte pelas suposições irrealistas do Stigliz morar em BH e pagar os mesmos custos que eu, mas mesmo se considerássemos isso,2 alguma coisa ainda não estaria muito bem. Como eu disse antes, o custo de oportunidade dele é bem mais alto do que eu meu, só pelo fato dele conseguir fazer bem mais dinheiro em 16 horas.


O que acontece?


O lance é que se você quer realmente medir o custo de oportunidade, deve considerar o valor que uma pessoa está disposto a pagar por cada cd, e não o valor que foi pago. Muitas vezes achamos um produto que de fato está mais barato do que esperávamos, diz-se que nesses casos o consumidor adquire um excedente, que é a diferença entre aquilo que estava disposto a oferecer e o preço efetivo na prateleira. A partir dessa consideração, podemos intuir que uma pessoa mais rica está disposta a pagar mais por cada um dos cds que compra sendo assim, ao calcularmos o valor predisposto estaríamos medindo mais corretamente o custo-oportunidade de cada um. No entanto, essa medida deixaria o modelo de cálculo dos valores um pouco mais subjetivo, já que nem mesmo a própria pessoa pode calcular muito bem o quanto estaria disposto a pagar por cada cd que comprou. No meu caso, o preço original do que eu compro é bem próximo do valor que estou disposto a pagar, para um economista rico e renomado deve ser algo maior, mas, talvez, nem sempre. Há que se considerar à elasticidade renda desse tipo de consumo. Junto com outros fatores de custo isso pode explicar melhor a diferença.3


Bom, mesmo considerando esse custo de oportunidade no valor predisposto a pagar, podemos tentar cogitar o valor do talento. O Stiglitz pode ser, por ventura, um péssimo desenhista e gastar suas 16 horas de desenho fazendo uma historinha com bonecos de palitinhos (não que isso seja necessariamente ruim, vide, por exemplo, o site XCDC, ou o Cynical Man de Matt Feazell). Bom, de todo modo, pode ser um desenhista com fraca técnica e pouca inventividade quadrinística, suas horas podem valer em termo de custo oportunidade mais de U$ 1.000,00, mas esse valor estaria longe da técnica e esforço narrativos empregados. Como então o talento é incorporado nessa contabilização do valor das páginas?


Após matutar um pouco concluí por duas respostas: a primeira seria o capital-humano inserido na arte de fazer HQ’s. Se o Stiglitz investiu algum tempo da sua vida se dedicando ao desenho, isso de alguma forma repercute na sua habilidade e talento em fazer quadrinhos. Mas não é tudo, ele pode ter sido um aluno esforçado nesse quesito, mas ainda assim fracassar em fazer as Histórias. A segunda resposta é mais forte: Vantagens Comparativas. Enfim, julgamento sobre arte é algo subjetivo, até mesmo para os consumidores (o que todo mundo compra não é necessariamente o que é bom em arte). Mas se o Stiglitz põe no mercado uma história em quadrinhos de bonecos de palitinhos ao seu custo de oportunidade, digamos, de mil dólares por quatro páginas, o valor de seu talento terá que ser confirmado por quem o compra. Se o desenho for fraco e a história ruim ninguém vai comprar e o custo das 16 horas de prancheta do Stiglitz não será pago, ele estaria melhor se dedicando a economia que é a área onde conseguiria ter o seu custo-oportunidade devidamente recompensado.


É, então, por uma questão de vantagem comparativa que não me torno quadrinista, embora longe de ser um bom economista, minha vantagem comparativa ainda está ligeiramente pendendo para o lado dos números, equações, regressões, análises conjunturais e leitura de textos. E creio que minha falta de talento seria confirmada no lançamento de uma edição nas livrarias, provavelmente minha edição andaria as moscas, como este meu blog. Por falar nisso, instalei um contador para denunciar meu fracasso.


1 Já que são bens tradables de simples manufatura, a tinta nanquim, o lápis, a pena, folha e demais materiais não devem variar muito de preço, mesmo sendo nos EUA o custo de vida bem mais elevado. O preço seria mais alto na proporção do custo de vida. O que de fato ocorre é que esses bens muito simples como lápis e tinta nanquim, por exemplo, são muitas vezes produzidos em seu país de origem, ocorreria que o Stiglitz compraria Nanquim made in USA, enquanto eu compro made in Brazil mesmo. A sacanagem é que no Brasil quando se importa esse tipo de material o que pesa não é o transporte e sim as tarifas que equivalem, em alguns casos, a mais de 100% do valor do produto. É em parte por isso que comprar o lápis Carandache é tão caro, noutra parte é por uma questão de marca também, mas não me estendo nisso aqui...

2 Que no caso do aluguel já explicaria bastante como o custo oportunidade dele é bem maior que o meu.

3 O fator de peso será mesmo o quanto ele poderia ganhar em outra situação, que ficará mais claro adiante no texto.

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