domingo, setembro 30, 2007

José Carlos Fernandes

Não é comum recorrermos ao dicionário quando estamos lendo quadrinhos. Não é comum, mas também não há nenhuma razão para que não seja o contrário, alguns autores tentam mostrar que o meio pode ser tão poderoso e inteligente quanto qualquer outro meio artístico que veicula a imaginação, como a literatura, cinema ou teatro. José Carlos Fernandes é um desses esforçados autores de Banda Desenhada. Esforçado é apenas uma maneira de dizer pois em nada se pode assemelhar com a conotação pejorativa. As obras de JCF fluem de forma que só podem mesmo ter saído de alguém que possui uma imensa bagagem sobre a idéia dos grandes autores, filósofos e conceitos da ciência contemporâneos. É um autor inteligente, embora na contracapa de algumas de suas obras haja a brincadeira de que largou a profissão de engenheiro florestal por não ter o QI suficiente para tanto, sendo que, com apenas 70 pontos no quociente, o melhor mesmo é escrever quadrinhos. O chiste se justifica pelo conceito de que não há vida inteligente nesse meio.

Longe de ser maçante, o que José Carlos escreve é de uma ironia muito interessante e, apesar do ar cinqüentista que coloca nos seus desenhos, onde as páginas são de um amarelo ocre, o tema da obra é bem atual, gira em torno de uma sociedade do absurdo, de uma ciência absurda, de pessoas absurdas, de um estado gigantesco e absurdo e de uma idiossincrasia absurda do ser humano.

Ainda não pude conferir todas as obras de José Carlos Fernandes, porém, os críticos de quadrinhos consideram “A Pior Banda do Mundo” como sua obra-prima até o momento. O humor permeia todo o quadrinho desde o título. Repare que o autor é de origem portuguesa onde os quadrinhos são denominados por Banda Desenhada, banda então é um trocadilho, “a pior banda do mundo apresenta: ...” seria, além do fracassado conjunto de Jazz liderado pelo saxofonista Sebastian Zorn, uma referência ao próprio quadrinho, que de pior banda não tem nada.

O surrealismo já nos aparece nos seis títulos dos encartes: “O Quiosque da Utopia”, “Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante”, “As Ruínas de Babel”, “A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto”, “O Depósito de Refugos Postais” e o, ainda não lançado, “Arquivos do Prodigioso e do Paranormal”. Além disso, a todo o momento na obra, nos nomes das ruas, sobrenomes, lojas, restaurantes e editoras se encontram referências à filósofos, compositores e personalidades nem sempre fáceis de se perceber. É sempre uma piada, além dos diversos termos em que tive de buscar o dicionário, por serem menos corriqueiros ou por pura ignorância mesmo. Mas a obra de bons escritores como JC

F é para ser lida sem consulta, na verdade a intenção é muitas vezes explorar o absurdo do vocabulário prolixo, como no episódio do terceiro número onde um lexicógrafo vai consultar um editor de dicionários por ter tirado palavras em desuso.

Segue nos quadros abaixo a representação de uma das histórias do último número, cada episódio é contado em uma cadencia fechada em duas e duas páginas, apresentando, algumas vezes, ligação entre si e com as outras edições. Pode se ver que “A Pior Banda do Mundo” não é sem trabalho e método, mas eu diria mesmo que JCF escreve suas histórias naturalmente como um cronis

ta nato, o autor “nada de braçada” na construção de situações irrisórias ou improváveis, aquele caminho sobre o absurdo que nos remete a vida diária.



Segue uma lista de várias das palavras que tive de consultar no dicionário. Nos livros há a listas com os nomes curiosos das ruas e dos personagens para os que quiserem consultar. Na primeira leitura nem consultei tanto, não precisa, e ficaria chato demais. Em uma segunda leitura, num esforço para aumentar o vocabulário transcrevi as palavras que tive de olhar ou aquelas que nos são menos corriqueiras no dia-a-dia. Há algumas que são interessantes formas e expressões usadas em Portugal quando, aqui no Brasil, daríamos lugar a outras palavras.

  1. Quiosque da Utopia

  • Calafetar
  • Escaparates
  • Barbitúricos
  • Criptoacustica
  • Estação Estival = verão
  • Ergonomia
  • Lipo-sucção = Lipoaspiração
  • Idiossincrático
  • Hipnográfico
  • Montra
  • Mulher-a-dias = diarista
  • Escalopes
  • Borrego
  • Fleumático
  • Inextricável
  • Metrônomo
  • Filantrópica
  • Prurido = coceira
  • Estores = persianas
  • Extemporâneas
  • Sorumbáticas
  • Mariachi http://pt.wikipedia.org/wiki/Mariachi
  • Obstipação
  • Acérrimo (essa é fácil)
  • Inefável (também)
  • Alguidar = vasilha de barro ou metal
  • Filateísta
  • Entomóloga
  • Lepidóptero
  • Aerofagia
  • Semiótica (esse é legal de saber: é o estudo da significação e significados ver Umberto Eco)
  • Epistemologia = Estudo do grau de certeza do conhecimento científico em diversos ramos.
  • Autoclismo = descarga (da privada)

  1. No Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante
  • Minudências
  • Hipnológicos
  • Nefelibata (não é chingamento)
  • Histerese
  • Gongórica (exagerada)
  • Cronografia
  • Entropia
  • Descalabro
  • Desanuviado
  • Diáfanos (transparentes)
  • Descurado
  • Psicotrópicos
  • Perífrase (nome bonito para embromação, :), brincadeira)
  • Arrevesada
  • Anódinos (medicamentos que dispensam receita)
  • Inanidades
  • Topognóstica
  • Feéricos
  • Lacônicos
  • Panache
  • Cotovia
  • Phoenicóptero
  • Holoturia
  • Inaudita
  • Supina = Supimpa!
  • Gorgônias
  • Soníloquos
  • Narcolepsia
  • Narcoluminescência
  • Hermenêutica = interpretação do sentido das palavras :)
  • Grafologia
  • Bivaques
  • Tricórnios
  • Mitras
  • Coleópteros
  • Parek da patafísica (essa é legal!)
  • Efeméride = simplesmente uma notícia, um acontecimento rápido e efemero.
  • Estorninho
  • Estenografia
  • Trilo
  • Seljúcida
  • Alimária
  • Cucurbitácea
  • Melómanos = gostar de música, não de melão
  • Taquimetria
  • Balaustrada
  1. As Ruínas de Babel
  • Alpacas
  • Lexicógrafo
  • Diletância
  • Bulício
  • Coligiu
  • Decapante = uma espécie de engraxante, não sei
  • Comiseração
  • Ínvio = fechado
  • Estenografia
  • Açafrão
  • Calistênico
  • Astenofônicos
  • Anemocéfalos
  • Hipoprosexia
  • Tafofobia
  • Hiperortografismo
  • Onicofagia
  • Maleitas (mazelas, doenças)
  • Hemistíquio
  • Hipálage
  • Semi-fusa
  • Pizzicato (musical)
  • Burgesso (burguês)
  • Vernissage
  • Hipomancia
  • Heráldica
  • Corrida de Galgos
  • Sincretismo = ecletismo, basicamente
  • Etnomusicologia
  • Numismática = ciência das moedas e medalhas
  • Columbofilia = arte de criar pombos-correios
  • Frenologia
  • Hagiografia
  • Talasso-terapia
  • Morgue
  • Retrosaria = loja de espelhos
  • Filologia = estudo dos povos
  • Polissêmico = vários sentidos em uma palavra
  • Metalingüística
  • Escavado Poplíteo
  • Epistemológica
  • Piroso ≠ chique
  • Águas-Furtadas (ambiente, banheiro)
  • Tusébio
  • Oblatividade
  • Putredinoso
  • Aléu
  • Flogopite
  • Sugilar
  • Impetrável
  • Apocnapismo
  • Trigança
  • Sudro
  • Volapuquista
  • Fedífrago
  • Xaboco
  • Chincho = faixa de couro
  • Verrinário
  • Tremecem
  • Cicatice
  • Cinorexia = bulimia
  • Nubífero
  • Efodiofobia
  • Toante = Toar, soar (essa e as 10 próximas são rimas poéticas)
  • Aliterante
  • Retrógada
  • Encadeada
  • Quebrada
  • Cruzada
  • Tetrâmetro
  • Trocaico
  • Cataléctico
  • Trimetro
  • Jâmbico
  • Musonauta (astronauta da música, ou coisa que se assemelhe)
  • Eneassilabo
  • Dimétrico
  • Acróstico
  • Ditrâmbico
  • Écloga
  • Elegia (tipos de poemas)
  • Endecha
  • Epigrama
  • Epopéia
  • Ode
  • Pastoral
  • Rapsódia
  • Vates
  • Inépcia
  • Extemporânea
  • Preleção
  • Ganímedes = Satélite de Júpiter (maior do sistema solar)
  • Rádon
  • Obnóxios
  • Despenhar
  • Hipérbato
  • Catacrese
  • Rádon
  • Obnóxios
  • Despenhar
  • Hipérbato
  • Catacrese
  • Coriambos ≠ Anfíbracos
  • Epanalepse
  • Anacoluto = mudança abrupta de composição em uma oração
  • Matraquilhos
  • Petrarquistas
  • Sinedoques
  • Telefilólogos
  1. A Grande Enciclopédia do conhecimento Obsoleto

  • Estocástica
  • Logomaquia
  • Onirográfico
  • Estultícia (esse é muito bom!)
  • Ubiqüidade
  • Ciclofrênicos
  • Neotomistas
  • Hagiógrafos
  • Hilozoístas
  • Colmatável
  • Matróide
  • Legatos
  • Sarrilho
  • Agorafobia
  • Jantes = marmitas?
  • Algures (fácil)
  • Teratogênicas
  • Frigorífico = Geladeira
  • Filólogos
  • Sofistas = do sofismo argumento falso para induzir ao erro, vulgo “pegadinha”
  • Verbomanos
  • Paliocibernetas
  • Eugenistas
  • Psicotroponautas
  • Mavioso = harmonioso, suave, sonoro, nada a ver com mafioso
  • Enólogos (vinho)
  • Arrelia = Briga
  • Mariposa = é o Borboleta da natação
  • Gares = garagens ou pto de ônibus
  • Sensaboria = insípido, sem sabor
  • Coruscante
  • Profilaxia
  • Estultólogos (hahahaha)
  • Lés a lés = ponta a ponta
  • Cavaquear = Enfastiar
  • Néscios = boçais
  • Tonitruante = retumbante
  • Nefandas
  1. Depósito de Refugos Postais
  • Cinófobo
  • Contritos
  • Neófitos = noviço
  • Pândega = patuscada
  • Punaises = tachinhas?
  • Tareia = carão, ralha
  • Compinchas = seguidores, patota
  • Assacar
  • Berlinde
  • Dentríficos = pasta de dentes
  • Berbequins
  • Esteatopigia
  • Ictinofauna
  • Escroques = ladrões
  • Palmípede
  • Florilégio = antologia de poemas ou coleção de flores
  • Poetastros = bardo, vate, um poeta astro :)
  • Perifrástica
  • Clisteres
  • Tauromaquia = arte de tourear
  • Azáfama = pressa
  • Ignota
  • Vaniloquência
  • Lipofrenia
  • Anemocefalia
  • Eudiômetro = mede variação no volume dos gases
  • Praseodímio = 59° elemento da Tabela Periódica
  • Quinquérios = masgistrados da Rep Romana p/ regular
  • Estratigráfica
  • Algonquiano
  • Criptozóica
  • Apófises = eminência de osso, grande massa intrusiva de rocha
  • Xernartros = mamíferos da família das preguiças, tamanduás, tatus...
  • Dispnéicos = dificuldade de repirar, relativo à
  • Glicínia = glicose
  • Absínia
  • Contrição = arrependimento
  • Vituperar = proferir palavrões
  • Verriginosa
  • Ebúrneo = de marfim
  • Hiperacusia = audição super sensível
  • Comezinha = corriqueiras
  • Desditosos = infelizes


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