quarta-feira, outubro 07, 2009

Primeiro dia da 6ª FIQ de BH


São 1:25 da madrugada e me encontro acordado, fui deitar cedo, as 23 e pouco, mas não preguei. Nessas situações, é melhor fazer alguma coisa do que esperar o sono chegar. Com certeza tem haver com os inusitados acontecimentos da feira e do fim de noite que dariam muito bem um roteiro de quadrinho à la Harvey Pekar. Resolvi então redigir como foi o nosso dia. A versão gibi, fica para daqui a algum tempo.

Mas antes deu entrar em minhas próprias intempéries, vamos falar do evento. Para quem está expondo esse não é o primeiro, mas sim o segundo dia, mas va lá, foi hoje mesmo que começou o movimento, e começou bem. O Leandro me contou que pela manhã o volume de pessoas ficou maior do que ele esperava, além do movimento de alunos das escolas, o que é o natural para o horário.

Quando eu cheguei ao evento às 16:00 estava impossível de estacionar do lado de fora e lá dentro da tenda Eugênio Colonese (Homenagem ao grande desenhista nacional que faleceu ano passado) estava bem movimentado. O stand da "Quadrinhos Alternativos" que é onde a A.T.U.M. está morando estava particularmente cheio. E nós lá da porta, Quarto Mundo, Revistas Dependentes e Alternativos, estamos fazendo sucesso. Vendendo?! Nem tanto, mas as pessoas tem parado para conhecer e olhar...

O movimento grande da tarde deu uma esfriada com o vento e a chuva que chegou lá para 16:40, nossa tenda que estava bem agradável, perto do ventilador, começou a ficar úmida e com goteiras, as revistas sofreram um pouco com as "zonas úmidas" e começaram a dobrar. Teremos de arranjar aqueles desumidificadores do tipo dos que são usados pelos músicos para guardar à seco seus instrumentos.

No mais, apareceram muitos amigos e curiosos, e conversei sobre o trabalho de outros quadrinhistas que estão participando. Sobre as exposições visitei o inusitado hipermercado ferraille, uma paródia com os itens de consumo que vemos comumente nos supermercados, muito legal, não conto aqui que produtos são esses pois anteciparia as brincadeiras, fica a dica.

Sobre as palestras, assisti a mesa de "Animação e Cinema" em que participaram Lancast do Rio Grande do Sul que ressaltou como essa área está sendo demandada no Brasil com o crescimento de pequenos estúdios de animação produzindo mais e mais, e para o mundo inteiro. Lancast tocou em um velho problema brasileiro: a falta de qualificação da mão de obra, e da formação e instrução técnica de gente já preparada. Os bons animadores estão tendo de trabalhar muito para cumprir as demandas. Bom, não só na área de animação que é assim, o Brasil sempre ficou à mercê de que os talentos se fabricassem sozinhos. Bom, isso pode ser insuficiente e ele tem razão.

Guy Delisle, o outro participante, é canadense de Toronto com uma experiência internacional na França, Coréia do Norte, Vietnam, China, interessante. É um caso um pouco diferente ao Brasileiro, Delisle apontou para ele o paradoxo de serem formados muitos animadores na França, mas de não haverem mais grandes estúdios para empregá-los. Ou seja, formam-se animadores para que cada um deles tenha seu próprio estúdio, o que é um contrasenso, já que nesse caso não há ganhos de escala e da formação de um time, já que a animação é essencialmente um trabalho em equipe. Mas não sei como ele vê o fato de que agora pequenas equipes podem produzir mais e mais rápido do que 100 animadores (chutando) de equipes antigas.

Bom sobre a relação animação e quadrinhos acho que a mesa foi um pouco mais fraca, pois os participantes ressaltaram mais a relação "quadrinho" -> "animação" e ficou de lado a relação "animação" -> "quadrinho" que hoje é uma direção também muito importante dessa causalidade. Por exemplo, um quadrinista que tem noção de movimento, quadros chave e maleabilidade dos desenhos ganha muito mais expressividade em seus quadrinhos. Alguns desenhistas fazem essa transição com incrível desenvoltura, um exemplo é o Benoit Sokal, que esteve na FIQ passada. Delisle foi então injusto com seus patrícios franceses ao dizer que está faltando a conversa entre os dois lados. Não é de todo verdade, porém tendo a concordar um pouco com ele.

Delisle escreveu também quadrinhos de sucesso: Crônicas Birmanesas e Pyoyang, quando ele trabalhou como animador na Coréia do Norte. Eu quero conferir esses quadrinhos já de algum tempo, acho que não erro em sugerir a compra.

Lancast lembrou a importância de um bom roteiro. Um desenho tosco sobrevive com um roteiro bom, mas os mais exuberantes desenhos não sustentam um roteiro lixo. É por isso que nosso desenho tosco da ATUM tem alguma chance :-). "Yes, nos temos roteiro", mas muitos do meio estão ligando mais para a imagem mesmo. Enquanto os palestrantes falavam eu revia o logotipo criado pelo Renato Canini para essa edição, muito criativo, é um pequeno napoleão com um chapéu de balão. É um desenho com o qual busco me insperar, reparem as inúmeras linhas abertas, sugestivas, quase nada fecha, acho isso excelente. Reparem também o Edu aí do lado...

Canini trilha marcas para todos nós desenhistas nacionais.

Não fiquei para ouvir todas as perguntas, estava um pouco preocupado em não deixar o stand desguarnecido, e não pude conferir a palestra seguinte de humor-gráfico com Cizo Felder, Liniers e Duke, que também muito me interessava. Se não me engano, Felder é um dos franceses responsáveis pelo excelente mercado Ferraile que já mencionei nesse post.

Pra finalizar, o fim de noite foi um pouco mais tranquilo, tomando cuidado para não molhar demais as revistas. No entanto, enquanto isso, no lado de fora, meu carro estava sendo rebocado... Damn Traffic! E maldito contra-cheque que chegou hoje, mas não veio junto o pagamento. Essas depois eu conto. Amanhã começam as oficinas Master!

Um comentário:

Lia_Lioca disse...

Gostei de ver o Ed animado e alegre.

Poderia ter feito um Banner desse desenho para expor no evento, mas tudo bem ainda tem tempo ano que vem tem mais.

1000 beijos.